segunda-feira, janeiro 22, 2007

Ó Angola meu berço do Infinito


Espigueiros, Maquela do Zombo (foto de Os nossos kimbos)




Ó Angola meu berço do Infinito
meu rio da aurora
minha fonte do crepúsculo
Aprendi a angolar
pelas terras obedientes de Maquela
(onde nasci)
pelas árvores negras de Samba-Caju
pelos jardins perdidos de Ndalatandu
pelos cajueiros ardentes de Catete
pelos caminhos sinuosos de Sambizanga
pelos eucaliptos das Cacilhas
Angolei contigo nas sendas do incêndio
onde os teus filhos comeram balas
e
regurgitaram sangue torturado
onde os teus filhos transformaram a epiderme
em cinzas
onde das lágrimas de crianças crucificadas
nasceram raças de cantos de vitória
raças de perfumes de alegria
E hoje pelos ruídos das armas
que ainda não se calaram pergunto-me:
Eras tu que subias montanhas de exploração?
que a miséria aterrorizava?
que a ignorância acompanhava?
que inventariavas os mortos
nos campos e aldeias arruinados
hoje reconstituídos nos escombros?
A resposta está no meu olhar
e
nos meus braços cheios de sentidos

(Angola meu fragmento de esperança)
deixai-me beber nas minha mãos
a esperança dos teus passos
nos caminhos de amanhã
e
na sombra d´árvore esplendorosa.)




João Maimona
In “Traço de união”

terça-feira, janeiro 02, 2007

Waldemar Bastos




Bom ano para todos.

Para início de 2007 nada melhor que Waldemar Bastos, ele que em 1954 nasceu justamente em M'banza Kongo.

Começou a cantar e a compor desde muito cedo.
Em 1982, no decurso de uma visita a Portugal, tomou a difícil decisão de não regressar ao seu país, então atravessando uma longa guerra civil. Viveu na Alemanha, França e Brasil, onde gravou o seu primeiro álbum, Estamos Juntos. Em 1985 fixou-se em Lisboa, e em 1990 gravou Angola Minha Namorada. Um novo CD, Pitanga Madura, editado em 1992, foi descoberto numa discoteca lisboeta por David Byrne. Entusiasmado com o que ouviu, contratou Waldemar Bastos para a sua editora, a Luaka Bop. Aí gravou Pretaluz, produzido por Arto Lindsay. O disco firmou o seu autor na cena internacional da world music, abrindo-lhe as portas para se apresentar na América, na Europa e no Extremo Oriente.
Em Abril de 2003 regressou a Angola pela primeira vez em muitos anos, em celebração do fim da guerra civil. Esse regresso, o facto de entretanto ter completado 50 anos (“Meio século obriga-nos a parar e a olhar para trás na nossa vida. Mas também temos sonhos para realizar”), a reflexão que fez sobre a sua música, levaram-no à gravação de um novo disco, Renascence, na editora holandesa World Connection.