segunda-feira, julho 02, 2007

Mbanza Congo - péssimas notícias













A minha memória de Mbanza Congo, em 1972




Mbanza Congo regressou aos títulos de 1ª. página... infelizmente pelas piores razões.
O acidente com um Boeing 737 vitimou seis pessoas.
Apenas um milagre poderá terá impedido que mais mortes ocorressem.
Ainda bem que há... milagres!
A minha solidariedade para com os familiares das vítimas do acidente.


M'banza Congo é e será sempre um marco fundamental na minha vida.
O acidente trouxe-me á memória características únicas daquela pista, daquela lindíssima cidade e daquele povo portentoso e amigo.

O meu baptismo de voo aconteceu num voo de Luanda para Mbanza Congo, então São Salvador do Congo.























Um «enorme» DC3 da DTA, antecessora da TAAG levantou do Aeroporto Craveiro Lopes, hoje 4 de Fevereiro, escalou Ambriz, Ambrizete, Santo António do Zaire seguindo depois para São Salvador, antes de rumar a maquela do Zombo e regressar finalmente a Luanda.
Uma viagem inesquecível.

Recordo desse tempo as dificuldades que aeronaves de grande porte tinham para ali operar. O avião maior que por ali aterrava era o famoso «Barriga de Ginguba» - o Nord Atlas, militar.
Aviões de escala da DTA não recordo, ali, outro que não fosse o Dakota.

Lembro que a capital da Província do Zaire era, na altura, uma pequena cidade do interior, ameaçada pela guerra que não raramente passava não muito longe dos seus horizontes.

Rodeada de arame farpado por todos os lados, a sua extensão máxima correspondia, grosso modo, ao comprimento da sua pista de aviação - curta e estreita.

A «aerogare» não existia e todo o processo burocrático ligado ás viagens era efectuado numa loja de uma vivenda contígua á pista - a Casa Verde.

A pista do aeroporto tinha, no início da década de 70, características muito especiais. Dividia a cidade em duas, estando de um lado a «cidade branca» e do outro a «cidade negra», a sanzala.

Esta pista era talvez uma das únicas pistas onde de um lado para o outro da cidade circulavam livremente pessoas e veículos. Essa passagem situava-se junto ao CRESSA (Clube Recreativo de São Salvador).

O relato do acidente agora ocorrido recorda-me que um avião com a envergadura do DC3 passava com a ponta das asas sempre muito perto das casas, fossem elas, na altura instalações militares, a Missão Católica, a Catedral de São Salvador... ou as humildes casas de adobes de muitos amigos.
Qualquer incidente nestas circunstâncias pode tornar-se catastrófico.


Não me parecendo, pelos relatos que tenho, que a estrutura urbana á volta da pista se tenha alterado, mesmo que, como se sabe tenha sido melhorada e eliminada a tal passagem, fácil é admitir que uma pequena falha, tenha ela a origem que tiver, ponha em perigo a segurança da aeronave e de toda a zona urbana que ladeia a pista.

Admitir que aeronaves como a que agora sofreu o acidente escalam aquela pista assiduamente, por melhores que hoje sejam as condições, é sem dúvida uma proeza humana dos pilotos da TAAG!

Confesso que, mesmo antes do acidente, se me dissessem para regressar a Mbanza Congo num Boeing 737, o faria de imediato, sem pestanejar. Mas que, até aterrar em segurança, estaria absolutamente espectante quanto á possibilidade do «monstro» conseguir ali pousar, creiam que estaria...

Assisti, ali, a DC3 tentarem a aterragem e terem que abortar o processo, fazendo razante á pista, em aceleração muito próxima do Hospital Provincial, não muito longe do limite da pista, na altura assinalada com metades de bidãos de 200 litros.

A perigosidade daquela pista, fica patente na imagem de um outro acidente ali ocorrido em 1994, provavelmente por motivos idênticos, com um Boeing 727 da TransAfrik.




















Qualquer que seja o avião, quaisquer que sejam os riscos... aí voltarei, estou certo!

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Ó Angola meu berço do Infinito


Espigueiros, Maquela do Zombo (foto de Os nossos kimbos)




Ó Angola meu berço do Infinito
meu rio da aurora
minha fonte do crepúsculo
Aprendi a angolar
pelas terras obedientes de Maquela
(onde nasci)
pelas árvores negras de Samba-Caju
pelos jardins perdidos de Ndalatandu
pelos cajueiros ardentes de Catete
pelos caminhos sinuosos de Sambizanga
pelos eucaliptos das Cacilhas
Angolei contigo nas sendas do incêndio
onde os teus filhos comeram balas
e
regurgitaram sangue torturado
onde os teus filhos transformaram a epiderme
em cinzas
onde das lágrimas de crianças crucificadas
nasceram raças de cantos de vitória
raças de perfumes de alegria
E hoje pelos ruídos das armas
que ainda não se calaram pergunto-me:
Eras tu que subias montanhas de exploração?
que a miséria aterrorizava?
que a ignorância acompanhava?
que inventariavas os mortos
nos campos e aldeias arruinados
hoje reconstituídos nos escombros?
A resposta está no meu olhar
e
nos meus braços cheios de sentidos

(Angola meu fragmento de esperança)
deixai-me beber nas minha mãos
a esperança dos teus passos
nos caminhos de amanhã
e
na sombra d´árvore esplendorosa.)




João Maimona
In “Traço de união”

terça-feira, janeiro 02, 2007

Waldemar Bastos




Bom ano para todos.

Para início de 2007 nada melhor que Waldemar Bastos, ele que em 1954 nasceu justamente em M'banza Kongo.

Começou a cantar e a compor desde muito cedo.
Em 1982, no decurso de uma visita a Portugal, tomou a difícil decisão de não regressar ao seu país, então atravessando uma longa guerra civil. Viveu na Alemanha, França e Brasil, onde gravou o seu primeiro álbum, Estamos Juntos. Em 1985 fixou-se em Lisboa, e em 1990 gravou Angola Minha Namorada. Um novo CD, Pitanga Madura, editado em 1992, foi descoberto numa discoteca lisboeta por David Byrne. Entusiasmado com o que ouviu, contratou Waldemar Bastos para a sua editora, a Luaka Bop. Aí gravou Pretaluz, produzido por Arto Lindsay. O disco firmou o seu autor na cena internacional da world music, abrindo-lhe as portas para se apresentar na América, na Europa e no Extremo Oriente.
Em Abril de 2003 regressou a Angola pela primeira vez em muitos anos, em celebração do fim da guerra civil. Esse regresso, o facto de entretanto ter completado 50 anos (“Meio século obriga-nos a parar e a olhar para trás na nossa vida. Mas também temos sonhos para realizar”), a reflexão que fez sobre a sua música, levaram-no à gravação de um novo disco, Renascence, na editora holandesa World Connection.